Métodos inovadores auxiliam pacientes, e a atualização da legislação garante acesso ao atendimento gratuito.
Mesmo com avanços no tratamento, na legislação e nos atendimentos, o câncer está entre as quatro principais causas de morte antes dos 70 anos, na maioria dos países, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Até 2050, a autoridade de saúde estima o aumento de 60% dos diagnósticos no mundo, sendo a taxa de crescimento em países em desenvolvimento, como o Brasil, de 77%.
No país, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) registrou alta de 20% no número de casos da doença na última década. Para o triênio 2023-2025, a entidade prevê 704 mil novos diagnósticos a cada ano, com as regiões Sul e Sudeste concentrando cerca de 70% dos quadros.
Segundo o presidente de honra da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Carlos Gil Ferreira, diante deste cenário, o desenvolvimento de estudos envolvendo o genoma humano se tornou indispensável na oncologia porque ajuda na precisão diagnóstica e na eficiência do tratamento individualizado.
O especialista cita a imunoterapia e o tratamento com anticorpos monoclonais como melhorias nas terapias aplicadas. Outro exemplo é o tratamento de neoplasias hematológicas, o CAR-T, que usa células do próprio paciente e as modifica geneticamente em laboratório para combater o câncer.
Aplicação de novos métodos já é realidade
As novas formas de tratamento têm sido usadas para diferentes tipos da doença, inclusive os mais comuns, como o câncer de pulmão , que é o terceiro mais incidente entre os homens no Brasil, de acordo com os dados do Inca. Dependendo do estágio da doença e do tipo de célula cancerígena, é possível usar a imunoterapia e a terapia-alvo.
No caso do tratamento de câncer de mama, o segundo com maior incidência no Brasil e o que mais mata mulheres, segundo o Inca, os pilares tradicionais – terapia hormonal, quimioterapia, radioterapia e cirurgia – também têm sido complementados por abordagens inovadoras, como a terapia-alvo e a imunoterapia.
Como “divisor de águas”, a oncologista clínica e pesquisadora, Clarissa Mathias, diz que as terapias contra o câncer de mama começam a mergulhar na era genômica, ou seja, de tratamentos direcionados por biomarcadores.
A especialista ressalta que outros avanços promissores são a terapia com células T de receptor de antígeno quimérico (CAR-T), que modifica geneticamente as células T do paciente para atacar as células cancerígenas, e os inibidores de checkpoint imunológico, que estimulam o organismo a combater o câncer.
No cenário de terapias inovadoras, também é possível incluir a vacinação contra o HPV, sigla para Papiloma Vírus Humano. A infecção sexualmente transmissível tem como principal sintoma o surgimento de verrugas genitais em homens e mulheres. A associação do vírus com o desenvolvimento do câncer de colo uterino é uma das principais preocupações de saúde pública.
Dessa forma, a orientação das autoridades de saúde é para que as mulheres, ao reconhecerem os sintomas do câncer de colo do útero – como sangramento vaginal anormal entre os períodos menstruais, logo após relação sexual ou após a menopausa – procurem um médico para o diagnóstico. A identificação da doença no estágio inicial aumenta as chances de cura. Além disso, também é indicado realizar, periodicamente, o exame Papanicolau.
Vacina para câncer de pele está em estudo
Em estudo, uma vacina das farmacêuticas Moderna e MSD (Merck Sharp and Dohme) contra o câncer de pele promete revolucionar o tratamento da doença. De acordo com a BBC, os médicos do University College London Hospitals têm testado a administração da vacina com medicamentos.
Desde 2023, Steve Young, 52 anos, é um dos primeiros pacientes a testar a vacina contra o câncer de pele, que usa tecnologia de RNA mensageiro, assim como algumas vacinas contra Covid-19. A diferença é que a composição é alterada para se adequar a cada paciente individualmente. O tratamento está na fase 3, de estágio final, no Reino Unido e na Austrália.
Atendimento aos pacientes é previsto em lei
Em 2021, foi criada uma comissão especial na Câmara dos Deputados para tratar sobre o enfrentamento do câncer no Brasil. O projeto foi reinstalado em 2023 e funcionará pelos próximos dois anos.
O advogado especialista em direito de saúde e direito público, membro da comissão de direito médico da OAB – MG, Thayane Fernando Ferreira, explica que quatro leis fundamentais auxiliam os pacientes com câncer.
A Lei nº 12.880/2013 garante o direito ao tratamento de forma integral e gratuita pelo SUS, incluindo cirurgias, radioterapia, quimioterapia e os medicamentos necessários. Já a Lei nº 12.732/2012, estabelece o prazo máximo de 60 dias para o início do tratamento.
A Lei nº 13.768/2018 garante a realização de exames em até 30 dias pelo SUS, após solicitação médica indicando suspeita da doença. A quarta lei deste conjunto, conforme Ferreira, é a nº 13.896/2019, que institui a Política Nacional de Prevenção do Câncer, com foco na promoção de ações de prevenção, detecção precoce e tratamento.